quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

1 ano de governo Bolsonaro

Após esse primeiro ano difícil, sofrido e demorado de governo Bolsonaro, muitos brasileiros ainda se perguntam "Como é que pode Bolsonaro ter sido eleito presidente da República?", e cada vez mais brasileiros devem estar se perguntando "Como é que eu pude votar nisso?".
Várias são as possíveis razões que podem ter levado a essa tragédia. Um misto de anti-petismo, conservadorismo, descrédito na política, analfabetismo político, baixa qualidade de informação (fakenews), efeito manada, movimento pendular histórico, messianismo, oportunismo, etc.
Um ano se passou e a aprovação de Bolsonaro só vem caindo desde sua eleição.
Ou seja, muitos de seus votantes estão finalmente se dando conta da tragédia que já vinha sendo anunciada.
Portanto, principalmente aos que caíram no conto do vigário, cabem certas indagações e reflexões:
- Era para não ser do PT? Entendo e até concordo, mas havia outros 12 candidatos! 12! Além do nulo.
- Era para não ser de esquerda? Você está no seu direito democrático de querer isso, mas havia outras opções muito melhores de centro e centro-direita. Faltou pesquisar melhor.
- Era para ser anti-sistema? Bolsonazi sempre fez parte do sistema, sempre foi conservador e até retrógrado!
- Era para ser da "nova-política"? Bolsonaro era malufista! Todo mundo sabe que ele vem colocando família, milicianos e amiguinhos a sugar o Estado na mamata da política a décadas, aproveitando-se das "rachadinhas", usava dinheiro público para "comer gente", e agora se utiliza das mesmas velhas artimanhas de sempre (aparelhamento, cargos, emendas por votos, etc.).
- Era para ser contra a corrupção? Explique Queiroz, milícias, Flavinho, laranjal do PSL, rachadinhas, fantasmas, "indústria" de fakenews, caixa 2 da JBS, etc...Em 2018 essas coisas já estavam aparecendo na mídia mainstream. Como você não ficou sabendo?
- Era para ser neoliberal? Anos atrás, Bolsonazi se dizia fã do Hugo Chavez, queria matar FHC por privatizar a Vale, como um bom proto ditador neofascista tropical, disse que "o país só tinha jeito se matasse uns 30 mil"... Em pouco tempo de governo, ele destruiu a imagem do Brasil no exterior.
- Era para ser "outsider"? Bozó vive da política a décadas.
- Era para acabar com a crise econômica? Com quê projeto? Anarco capitalismo? Perseguição à esquerda? Mamatas a bancos e "amigos do rei"? Agravamento da desigualdade social? Destruição do Estado e da República Democrática de Direito? Ainda mais neoliberalismo em cima do povo carente por serviços públicos? Ataque aos Direitos previdenciários dos menos privilegiados? Ataque à cidadania? Ataque à Constituição Cidadã de 1988? Cadê os investimentos? Dólar e preços de combustíveis nas alturas. Reajuste fiscal. Cortes de verbas em saúde, educação e outras importantes políticas públicas. O aumento pífio de mais ou menos 1% previsto no PIB para 2019 é apenas 1/3 do previsto em 2018. Em 2019, houve enorme fuga de capitais externos. A desindustrialização e a precarização do trabalho são alarmantes! Só banqueiros e especuladores financeiros tem algum motivo para comemorar, ou seja, só privilegiados - minoria ínfima da população!
- Era para ser um bom gestor? Bozó nunca teve essa competência, deixa seus filhos perturbados atrapalharem a coisa toda, adora emitir despautérios absurdos, criar crises desnecessárias e teorias conspiratórias! Seus ministros são uma piada, personagens de filme de horror!
- Era para dirimir a crise política? O neofascismo bolsonazista governa com viés totalmente alienado e ideologizado à extrema direita, só governa para os seus eleitores fanáticos, alimenta a discórdia e a guerra política entre esquerda x direita e vive criando polêmicas bobas para abafar seus próprios erros. Tem até o "gabinete do ódio"! Bosó vem colecionando cada vez mais inimigos entre seus ex-aliados. Tudo isso vem acirrando o fundamentalismo religioso e o extremismo ideológico num ambiente cada vez mais crítico, cujas consequências para a civilidade brasileira já começam a ser problemáticas.
- Era para ser ético e moral? Bolsonazi é racista, preconceituoso, odeia os índios, os pobres, os sem terra, os homossexuais, os professores, os universitários, os artistas, a natureza, etc...(sua lista de odiados é imensa), planejou ataque a bomba no exército de onde foi expulso, vive espalhando mentiras e desonestidades, homenageou torturadores e ditadores sanguinários, tem como guru um ser desprezível e doido como Olavo de Carvalho. Há graves suspeitas sobre seu envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco. Etc., etc., etc.
- Era para acabar com o problema da segurança pública? Como? Com uma política genocida de liberação de assassinatos de inocentes (o "excludente de ilicitude"), bang-bang e repressão desumana em cima do povo excluído? Por que não com empregabilidade digna, cidadania, direitos humanos, educação, cultura, melhorias nos serviços e infraestruturas públicas e melhor equilíbrio na distribuição de renda, como o povo precisa? 
Que mais? 🤔 Esqueci alguma desculpa pra justificar o ódio?
Depois de 1 ano de governo Bolsonaro, não sobraram desculpas minimamente aceitáveis para tentar justificar a eleição deste ser deplorável como Presidente da República do Brasil! Ponto. Isso é fato! As justificativas se esgotaram.
Agora que o erro já está cometido, será que o Brasil conseguirá aguentar mais 3 anos desse caos? E as consequências para o futuro? Como é que vamos explicar a tragédia Bolsonaro para nossas futuras gerações? Como simples "culpa do PT"? Como nossas crianças vão crescer nesse país? Com que mentalidade? Como poderemos dirimir os danos desse conservadorismo tacanho, retrógrado e ignóbil e dessa mentalidade autoritária e pseudo moralista de classe média vazia que elegeram Bolsonaro?
Em 2018, os sinais dessa tragédia já eram bastante claros para muitas pessoas. Não foram poucos os veículos de alta credibilidade, nacionais e internacionais, que tentaram nos avisar do risco. Se você não percebeu, precisa tomar mais cuidado com o que vem acreditando, mais cuidado com suas fontes, mais cuidado com o que recebe pelo whatsApp e em suas redes sociais.
Esperamos que o povo brasileiro aprenda com seus erros. O problema é que há pessoas que não querem aprender.
Isto posto, desejo um 2020 e um futuro com menos fanatismo, menos extremismo, menos alienação, menos polarização política, menos enganação, menos hipocrisia, menos falso moralismo. Um 2020 e um futuro com mais e melhor politização, mais justiça social, mais bons estudos e pesquisas confiáveis, melhor qualidade de informação, melhor capacidade de equilíbrio, bom senso, respeito e tolerância, e principalmente, força e coragem para enfrentarmos as dificuldades que ameaçam nossa jovem e imatura democracia.

(fonte: canal do Henry Bugalho no youtube)

(fonte: canal do Maurício Ricardo no youtube)

(fonte: canal do prof. Paulo Ghiraldelli no youtube)


https://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Ele_N%C3%A3o
Imagem: Movimento #EleNão ( https://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Ele_N%C3%A3o )



sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Guilherme Santos fala ao jornal Imbituva Hoje Regional

Salve salve pessoal!

Então, dias atrás resolvi fazer uma entrevista com o grande músico e compositor Guilherme Santos, amigo de longa data, sobre o lançamento do seu aguardado primeiríssimo álbum, "Vol. I", o qual contém uma música cuja letra orgulhosamente ajudei a compôr (Mamoeiro). 
A entrevista foi publicada no jornal "Imbituva Hoje Regional" (leia aqui: edição 400), de janeiro de 2017.
Apesar de curta (por uma questão de limite de espaço no jornal), a entrevista foi bem agradável e resumida, porém completa.
O álbum completo "Guilherme Santos, Vol. I" está disponível no seu site (aqui).
MPB de qualidade! Bossa nova finíssima!
Altamente recomendado!👍
Abraço!

Guilherme Santos concede entrevista ao jornal Imbituva Hoje Regional. Fala sobre o seu primeiro disco (Vol. I), etc.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A Identidade do sujeito pós-moderno

Capa do livro de Zygmunt Bauman
(Capa do livro de Zygmunt Bauman)
A modernidade do século XX trouxe consigo quase que uma obsessão pela racionalidade, aplicada analiticamente a tudo, em continuidade às revoluções científica e industrial dos séculos anteriores. A vida cotidiana tornou-se mais impessoal, praticamente robotizada, feita de algoritmos; as relações interpessoais, mais pragmáticas e efêmeras. O tic-tac do relógio marca o compasso da rainha Produtividade, e com ela, o mestre Lucro a apontar quem fica, quem recebe, quem vence, quem é superior.

Fato é que os seres humanos ainda estão aprendendo tardiamente a utilizar a modernidade de maneira ética em prol da coletividade (não apenas local). Toda a humanidade, principalmente os menos abastados, vem pagando caro a “fatura” – para não dizer coisa muito pior –  porque uma ínfima quantidade de pessoas (perto de 1% da população), detentores da imensa parte de capital, recursos e influência política do planeta, tem abusado pecaminosamente dos poderes oferecidos pela modernidade. Fatura cobrada em parcelas a perder de vista, enquanto tentamos dolorosamente amortizar os altos juros da transição para a pós-modernidade – um fundo garantidor que não nos garante nada.
Modernidade líquida
Culturalmente, o liberalismo econômico e a globalização vêm gerando constantes mutações nas identidades dos povos, numa natural adaptação à “modernidade líquida” (Bauman) em que vivemos. As culturas que antes eram alicerçadas nas identidades regionais de cada povo, tornaram-se mais globais do que locais, sem faces bem definidas. O que vem de fora passou a falar mais alto, de forma imperativa e imperialista – numa alusão direta ao pós-colonialismo.

“Globalização significa que o Estado não tem mais o poder ou o desejo de manter uma união sólida e inabalável com a nação” (BAUMAN, “Identidade”, p. 34).
“Pense globalmente, aja localmente” tornou-se um dos “mantras” nas organizações capitalistas globalizadas.

Com o aumento do poder de consumo das pessoas, o “Century of the self” (século XX) trouxe mais poder à liberdade individual, ao ego, desprendendo o indivíduo das suas tradições regionais e responsabilidades com a comunidade. 

Cada ser humano nunca foi tão único e, ao mesmo tempo, tão igual ao resto do mundo, pois deixou sua identidade se diluir nesse mar de culturas globais. Contudo, essa homogeneização nas identidades gerou, em contrapartida, uma necessidade interna nas pessoas em redescobrir suas raízes – agora diversificadas, plurais, híbridas. Nota-se no ser humano do século XXI essa tendência no sentido de revalorizar e atualizar os fatores intrínsecos de cada cultura – o que caracterizava as pessoas como parte de uma coletividade e dava concretude às suas identidades.

Chico ScienceChico Science foi um dos artistas que captou como poucos a essência do ser humano pós-moderno. "Em seu projeto de pós-modernidade, Science valorizou a comunicação, a emoção coletiva. Muito além de Marx ou Freud, encontramos o empirismo, a vida cotidiana, uma espécie de hedonismo - o prazer imediato como único bem possível - a valorização das camadas populares, o 'presenteísmo', uma 'sociologia acariciante que não violenta a realidade ao investigar a decadência, afirmando o presente e grudando os olhos na imensidão'." (NETO, Moisés. CHICO SCIENCE, A Rapsódia Afrociberdélica)

Genérica e ideologicamente falando, o ser humano pós-moderno sofreu uma morfogênese em sua identidade, aprendeu a respeitar a liberdade individual do outro adaptando-se às diferenças culturais, enquanto busca redescobrir sua essência, outrora perdida, e revalorizar sua regionalidade, outrora descartada.
A identidade do ser humano pós-moderno é analógica-digitalizada, regional-globalizada, tradicional-modernizada, coletiva-individualista, rudimentar-inovadora, real-virtualizada, singular-multifacetada. E vice-versa.

Identidade do ser humano pós moderno

(parte do texto publicada na edição de agosto de 2016 do Jornal "Imbituva Hoje Regional")

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Filosofia da Retrospectiva - um breve comentário

Imagem: pixabay.com

Para que possamos compreender a atualidade, precisamos saber o que nos trouxe até aqui. E, como é de praxe em fins de ano, a mídia nos presenteia com a Retrospectiva do ano que finda, fatos e acontecimentos que ficaram marcados na história de toda uma nação, que serão lembrados durante um bom tempo, quem sabe eternamente (porque não?).

A separação do tempo em dias, meses e anos, consequência dos movimentos astrais e seus efeitos naturais sobre o planeta, nos possibilitou encapsular o estado existencial da imanência vívida da realidade – ou o Dasein de Heidegger – com objetivos de compreendermos a história, a sociedade e a nós mesmos, e assim, evoluirmos.

A “3ª. Lei de Newton”, ou “Princípio da Ação e Reação”, postula que para cada ação há uma reação de igual valor e com sentido contrário. Como em todo o universo, na sociedade esta lei da física também se aplica. Para cada fato há um contra fato, uma compensação. Os movimentos sociais são como organismos vivos, que se auto imunizam de motivações e forças de reação quando sofrem situações de injustiça. Esse tipo de acontecimento gera energia na sociedade para contrabalancear o status quo de desequilíbrio, o que tende a produzir condições internas para um novo fato social, que tende à harmonização homeostática da coletividade.
Filosofia da História
https://www.pinterest.com/pin/4222193370905127/
O “Materialismo Histórico” de Karl Marx consiste na ideia de que, ao criar a história, o ser humano baseia-se em sua própria realidade social. O homem é o ator de sua experiência e contribui fundamentalmente para a mutação do ambiente onde vive e é vivenciado. Nesse movimento de reação à materialidade, ao concreto da realidade, como que numa reflexão do plano material sobre o plano espiritual, o homem toma consciência de si mesmo e torna-se agente transformador ativo da história.

Wilhelm Dilthey pautou-se pelos fatores da natureza humana para explicar como os fenômenos culturais influenciam as mudanças históricas.

Em “A Razão na História – Uma Introdução Geral à Filosofia da História”, Hegel define História como “o desenvolvimento do Espírito no Tempo, assim como a Natureza é o desenvolvimento da Ideia no Espaço”.

Fazer uma Retrospectiva significa ler a história, a sociedade e a si mesmo, significa energizar a auto compreensão do Homem no Agora coletivo, assumir a consciência sobre os inter relacionamentos dos objetos condicionantes sociais – as Ideias no Espaço –, desanuviar esse estado de harmonização caótica de causalidades, compreender a lógica da escrita constante da vida – o presente e o seu progredir infinito – e analisar o “Espírito da Época” da humanidade em função da natureza/sociedade imanente numa fatia do plano multidimensional espaço temporal deste universo conhecido.

2016
imagem: pixabay.com
(Texto publicado no Jornal Imbituva Hoje Regional em 24/12/2015)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Nova música experimental

Após um certo hiato, eis um novo som no meu projeto experimental, "Grilo no Carrossel do Dr. Parnassus" - a trilha mais psicodélica e experimental que já publiquei até o momento. Trata-se de apenas um trecho de alguns minutos sintetizado de uma performance ao vivo totalmente livre de quase meia hora. Faz-me lembrar um pouco do início da tropicália e dos primeiros sons do Pink Floyd nos anos 60.
Dr. Parnassus é o mago do filme "O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus", o qual eu recomendo.


Antes de ouvir, relaxe, feche os olhos, respire fundo e esvazie a mente. Se possível, ouça num fone de ouvido.




Felipe Kertscher - flauta transversal e vocal
Jhon Baiano - bateria
Alessandro Moleta - sintetizador

Felipe Kertscher
Jhon Baiano




quinta-feira, 14 de maio de 2015

A Filosofia Existencial no Tropicalismo

Em qualquer sociedade, os fatos se inter-relacionam no tempo e a realidade é fruto de acontecimentos anteriores, então torna-se interessante o entendimento da história para a compreensão da cultura.
Tropicália - 1968Nos anos 60, o Brasil estava sob regime militar e sofria demasiada repressão intelectual e artística. Aliado a esse fator, há o surgimento forte da contra cultura nos movimentos de vanguarda artística ocidental, como sublimação de uma juventude pensante, cada vez mais tomando posse da liberdade de expressão que tem direito, socialmente ativa em resposta a uma geopolítica mundial angustiante de guerras, fome, violência, miséria, repressão, exploração e totalitarismos. No Brasil resultou no Tropicalismo ou Tropicália – uma versão “tropical” do “flower power” norte americano? Não, muito mais rico e profundo do que simplesmente isso. O tropicalismo se caracterizou pela arte como forte expressão do estado de espírito de sua época, a fusão de linguagens, a quebra de paradigmas, a sua influência na música, na moda, nas artes plásticas, na literatura, no cinema, na política, em fim, na cultura geral...
Após a bossa nova dos anos 50 e 60, o tropicalismo foi o movimento artístico de maior riqueza criativa e que mais floresceu a brasilidade para o mundo, com nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Glauber Rocha, Os Mutantes, Tom Zé, Novos Baianos, Jorge Benjor, Gal Costa, Maria Bethania, Torquato Neto, Jorge Mautner, Hélio Oiticica, Lygia Clark, José Celso Martinez Corrêa, etc. - sugiro o documentário “Tropicália” (2012) do diretor Marcelo Machado.
Para entendermos melhor a filosofia por trás da Tropicália, é necessário introduzir brevemente sobre o francês Jean Paul Sartre (1905 – 1980), um dos filósofos mais brilhantes e representativos do século XX, apegou-se à leitura desde criança, foi músico e ator talentoso na juventude, quando despertou para a filosofia pesquisando textos de Descartes, Spinoza, Kant, Nietzsche, entre outros. Pacifista e socialista, Sartre militou politicamente em causas de esquerda, lutando ativamente por revolução e justiça social. Polêmico, recusou-se a receber o prêmio Nobel de literatura em 1964 como forma de protesto contra as demagogias do institucionalismo das organizações oficiais.
A filosofia existencialista de Sartre “condena” o homem à responsabilidade por seu destino e tem neste fundamento existencial a base para sua liberdade, filosofia esta que inspirou os tropicalistas a lutar por liberdade de expressão, ao engajamento e à crítica ao “estabelecido”, às tradições e à própria cultura.

“Nós brasileiros, não devíamos imitar, más sim devorar a informação nova, viesse de onde viesse, ou nas palavras de Haroldo de Campos, ‘assimilar sob espécie brasileira a experiência estrangeira e reinventá-la em nossos termos, com qualidades locais iniludíveis que dariam ao produto resultante um caráter autônomo e lhe confeririam, em princípio, a possibilidade de passar a funcionar, por sua vez, num confronto internacional, como produto de exportação.’” (VELOSO, Verdade Tropical, 1997, p.247)
Sarte e sua esposa Simone de Beavoir visitaram o Brasil em 1960 onde passaram dois meses participando de movimentos sociais, assimilando cultura e deixando uma impressão permamente nas terras tupiniquins, tendo proposto “uma literatura popular engajada, que tivesse como objetivo despertar para o reconhecimento pelo povo de sua condição social impulsionando à ação revolucionária” (Adriano Ibiapina Ferreira).
Finalizo com uma frase de Sarte que sintetiza sua filosofia existencial:
“O homem não é senão o seu projeto, e só existe na medida em que se realiza.”


sábado, 10 de janeiro de 2015

A crise política brasileira está no povo

(Imagem: www.pixabay.com)


Fruto do fraco sistema educacional, da cultura do “jeitinho” e da malandragem instituída, a maior parte da população brasileira - a verdadeira massa - dá-se por satisfeita em apenas votar e pagar impostos, como se desta forma já tivesse cumprido seu papel cidadão. Grande parte vende seu voto por esmolas mascaradas de assistencialismo, vendendo assim também sua ideologia – veja, não estou criticando aqui os méritos do assistencialismo nas políticas sociais, que é mais do que evidente ser prudente e necessário, conforme os próprios fundamentos filosóficos e sociológicos dos direitos humanos e até mesmo para contrabalancear as mazelas do capitalismo, o que está errado é a forma deturpada que partidos se utilizam do assistencialismo com fins eleitoreiros.
De maneira egoística, a maioria dos cidadãos brasileiros não faz questão de exercer a sua cidadania no dia a dia, nas coisas mais corriqueiras, na vida social, deixando de respeitar os direitos do próximo, de cumprir com seus deveres e de exigir os seus direitos, sendo complacente, conivente e de certa forma cúmplice com o status quo de injustiças, imposto por uma minoria no poder.
O anti cidadão basta-se em traçar acomodadamente uma ou outra crítica de baixo calão, pois ele precisa compensar o seu sentimento de incompetência e incapacidade de mudança frente à realidade. Como se não houvesse outra saída, releva-se e vive-se uma vida inteira na ignorância, numa comodidade absurda, num coitadismo conveniente para ambas as partes – opressor e oprimido.
Como se política fosse apenas um joguete, no período eleitoral o anti cidadão levanta a bandeira de um partido apaixonadamente como se estivesse vestindo a camisa do seu time de futebol. Nem percebe que é simples marionete nas mãos de poderosos maquiavélicos! Prefere passar o resto do tempo deixando-se emburrecer pelos canais abertos de televisão – gratuitos, é claro.
Vejo muitos jovens desanimados com a política, desacreditados por um fatalismo desmotivante, causado por enxurradas de notícias negativas na política, como se “política” se resumisse a corrupção e jogos de poder. Jovens estes que serão os responsáveis pelas mudanças que tanto idealizam.
Mas aquele que acorda e enxerga o caminho não se apequena, toma iniciativas e muda a realidade ao seu redor, ao seu alcance, pois POLÍTICA vai muito além de partidos, DEMOCRACIA é muito mais do que eleições, CIDADANIA é muito mais do que pagar impostos e ÉTICA é muito mais do que uma bela palavra.
Ao invés de apenas criticar para se abster de responsabilidade e culpa, aquele que acorda e enxerga o caminho se embasa de informações e dados realmente relevantes e confiáveis, tece críticas construtivas pensando primeiramente no que é certo e que atenda ao maior bem comum, independentemente de partido político, símbolo, legenda, bandeira ou projeto de poder.
Aquele que acorda e enxerga o caminho age em sua comunidade e faz a sua parte. Ele faz a diferença com atitudes que valem mais do que palavras, dividendos ou bens mundanos materiais. Pensa globalmente, mas age localmente.
Aquele que acorda e enxerga o caminho, pensa não só no amanhã, mas nas próximas gerações, toma as rédeas de si próprio, não coloca sua ideologia à venda e não se deixa levar pela correnteza. Ele não dança conforme a música, ele escolhe a música, ou cria a sua própria.