segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Vida de roqueiro

É foda ser roqueiro no Brasil nos dias de hoje. Não é nada fácil. O Hip hop e o sertanejo tomaram tudo quanto é espaço na mídia pop em que o rock existia. Isto ocorreu devido a um turbilhão de fatos históricos e de infortúnios sociais, culturais e econômicos que não cabem comentar no momento, senão este post se tornaria interminável.
Banda SABADO 14 - Malagueta Bar (Ponta Grossa, PR, 16/07/11)
Penso que Rock não se conceitua, é algo abstrato, indecifrável, metamorfose ambulante.
"Que tipo som vocês tocam?". "Rock." A maioria pensa "Odeio essas músicas que é só barulheira!". Mas o rock, na verdade, vem bem antes de tudo o que se pensa ser rock no consciente coletivo. Penso que "rock" é qualquer tipo de música (arte ou atitude) que remete ao puro sentimento de exaltação do ser humano, belo, artístico e emocionante como deve ser, misturado com sensação de liberdade e projeção de rebeldia contra o status quo, com toque de comportamento que quebra as amarras da sociedade e foge das regras. É aquele sentimento de prazer com o proibido, algo que vem de dentro das pessoas. Algo extremamente natural e ao mesmo tempo surpreendente. Um grito pra realidade!

Pra ser roqueiro, o cara tem que ter sofrido, passado por poucas e boas. Pra ser roqueiro de verdade, o cara tem que ter culhões de pegar seu instrumento, subir no palco e fazer um puta som com cara de "FODA-SE". Ou não. Na verdade, o roqueiro não se importa com que cara vai se apresentar. O roqueiro autêntico não perde seu tempo no cabeleireiro antes do show, pois isso seria completa perda de tempo. Ele prefere passar o tempo vendo o sol se pôr, curtindo com a galera. O roqueiro prefere viver a se vender pro sistema. Algo muito diferente dos ditos "roqueiros" de hoje. Por isto que "filhinho de papai" muito dificilmente se torna um roqueiro de verdade. Pode até gostar de rock, tentar ser roqueiro, mas nunca vai conseguir ter a alma de roqueiro, que herda toda angústia dos negros blueseiros do Mississipi e da Chicago do início do século 20. Pra isto, tem que pelear muito na vida. Tem que "comer muito feijão". Vá conhecer a história dos Beatles e dos Rolling Stones pra entender o que eu digo.
Tudo bem, você pode me dizer, "mas os Stones e os Beatles também se venderam pelo sucesso", aí eu lhe pergunto, "mas você sabe o quanto eles sofreram pra ter sucesso? o quanto eles batalharam?", "você conhece o talento artítico musical e a criatividade destes caras pra dizer se eles merecem o sucesso que obtiveram?". Isso não é se vender, é merecer!

Na década de 60, havia muita estrada ainda por andar. Tudo estava no começo. As bandas faziam sucesso com muito mais facilidade. O mercado precisava de tudo aquilo. Os jovens clamavam por novidades. As pessoas achavam tudo aquilo o máximo! O rock estava na crista da onda! Era o top da vanguarda artística pop mundial! Daí, muito se fez. Dessa água, muitos beberam. E o rock foi fazendo e adotando filhos, netos do blues e do jazz. Tanto se criou e se copiou no rock desde então, que tornou-se extremamente difícil uma banda de rock criar algo novo nos dias de hoje. Você cria uma melodia, uma letra e pensa, "opa, peraí, isso aqui alguém já fez". Por isto mesmo já na década de 70, experimentação era o que interessava pras bandas de rock. E é o que interessa ainda hoje. Misture ritmos inimagináveis. Crie melodias impensáveis. Ache sons extravagantes. Faça algo de realmente novo e que funcione e você tem algo interessante.

Hoje continua sendo fácil fazer sucesso, mas apenas quando se tem muito dinheiro. Qualquer coisa que tenha as palavras "coração" e "amor" no meio, com grana, faz sucesso. Existe uma indústria por trás da mídia que cria e destrói ídolos pop por encomenda, ao bel prazer do mercado. Fabricação em série. É o poder do capital mandando na arte pop. Na era de hoje, o mercado cria e rotula novos estilos de música a cada hit que surge. Puro marketing! Porém o pop surgiu do rock, mais precisamente em 1967, com maior força nas cidades de Londres e Los Angeles, com bandas como Pink Floyd, Beatles, Jimi Hendrix, The Beach Boys, The Byrds, Velvet Underground, Rolling Stones, The Cream, Led Zeppelin e por aí vai...(ahhh...aquilo sim era arte pop...). Mas hoje, pra ter sucesso é só juntar um monte de grana, um penteado da moda numa carinha-bonita-com-jeitinho-de-sem-vergonha e uma galerinha  com pouca roupa em cima do palco dançando qualquer-coreografia-que-lembre-um-peixe-fora-d'água-com-dor-de-barriga. É batata! Ou seja, o pop virou a aversão ao rock autêntico.


E é por estas e outras que eu sempre digo: "antes de ter qualquer opinião sobre o rock, conheça os clássicos, meu irmão!".

Com esta frase, me despeço por hoje. Não é nada fácil ser roqueiro no século 21, principalmente no Brasil, em que o rock nunca foi o ritmo predominante na cultura popular.

Ninguém disse que seria fácil, e esta nem é a questão principal em ser roqueiro. Pois o roqueiro não se importa com o sucesso, e sim com com a vida e com a música. O roqueiro transforma as adversidades em combustível pra sua arte.

Um abraço!