“A
ganância envenenou as nossas almas, levantou muralhas de ódio, fez-nos chegar à
miséria e ao derramamento de sangue. Desenvolvemos velocidade, mas isolamo-nos
uns dos outros. A maquinaria que poderia dar abundância deixou-nos na penúria.
Os nossos conhecimentos tornaram-nos céticos e cruéis. Pensamos demais e
sentimos de menos. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que
inteligência, precisamos de compaixão. Sem estas virtudes, a vida será
violenta.” (filme: O Grande Ditador, Charles Chaplin, 1940)
As palavras acima
continuam cabendo perfeitamente nos dias de hoje, o que nos faz concluir que a
raça humana pouco aprendeu com seus próprios erros.
O que foi que aconteceu?
Onde foi que perdemos o foco?
Guerras nucleares e
armamentos cada vez mais destrutivos; sustentabilidade do planeta em perigo;
crises frequentes na economia global; aumento nos casos de câncer e stress;
miséria e fome enquanto há grande desperdício de alimentos; situação alarmante
da criminalidade e ataques terroristas; direitos humanos sendo covarde e
constantemente desrespeitados dia a dia; apenas para citar alguns exemplos
genéricos que nos fazem questionar o caminho que a humanidade tem traçado em
direção à sua evolução (ou diria, devolução?). Valeria a pena tanto sofrimento
em nome desse auto intitulado “desenvolvimento”?
Com o Renascimento e o
Iluminismo, na Europa, à partir de fins do século XIV, a raça humana parecia
ter acordado pra vida, mas em algum momento da história perdemos o “fio da
meada”. A utilização da
racionalidade por nós seres humanos pensantes e conscientes, apesar de bem
fundamentada no século XVII com a Revolução Científica e teoricamente bem
intencionada (com a quebra de paradigmas antes limitadores do conhecimento),
vem sendo mal e exageradamente utilizada com o passar dos últimos séculos.
A humanidade se deslumbrou
e se entorpeceu com todas as potencialidades adquiridas com a revolução
científica a ponto de se deixar levar por uma corrente de pensamento moderno,
mas de desdobramentos míopes, esquecendo pilares éticos e morais fundamentais.
A racionalidade usada como
causa e fim, sem fundamentação humanamente causal, fez a humanidade perder o
foco de suas ações e partir para um caminho sem volta de determinismos
estéreis, em uma busca frenética por uma modernidade hiper mecanicista e
funcionalista, porém essencialmente oca de valores, oca de visão holística; o
que vem comprometendo a sustentabilidade do planeta de tal maneira a colocar em
risco as nossas próximas gerações.
O pragmatismo da razão, as
revoluções industrial e da informação, as rotinas burocráticas passaram a ser
mais importantes do que o próprio ser humano e a própria natureza. Por um
grande período, nos relacionamentos dos fatores organizacionais e seus efeitos
invariavelmente impróprios na natureza, não foram consideradas suas associações
orgânicas com a humanidade como um todo.
A racionalidade em si é positiva se for usada com meios e para fins éticos, porém foi deturpada e usada sobremaneira para fins puramente organizacionais e tecnológicos.
A racionalidade em si é positiva se for usada com meios e para fins éticos, porém foi deturpada e usada sobremaneira para fins puramente organizacionais e tecnológicos.
Criou-se um sistema
econômico baseado exclusivamente no capital, nada na sustentabilidade, que
incentiva o hiper consumismo, a ganância por poder e status, a degradação dos
recursos naturais, o total desequilíbrio da distribuição de renda, a
quebra/burlamento de leis para favorecimentos egoísticos e ilícitos, a
competição desenfreada entre as pessoas ao invés da colaboração, a busca pelo
enriquecimento individual e a conquista dos padrões do modo de vida moderno propagandeados
pela mídia. O individualismo liberal reinou sobre o coletivo.
Passou-se a se ensinar
ciência sem fundamentação e riqueza filosóficas. A ciência que deveria ser
ensinada para moldar seres humanos dotados de corpo e espírito, capazes de
evoluir à partir da filosofia, usando a razão como ferramenta para se obter as
respostas sobre a natureza, e principalmente, em consonância com a natureza,
passou gradativamente de libertadora a vilã da humanidade.
O evolucionismo dúbio de um
“positivismo” lógico radical (que de positivo mesmo há apenas no nome) e o
tecnocentrismo instrumental exacerbados do novo mundo moderno, criticados por
Habermas entre outros teóricos intelectuais da antropologia / sociologia,
tornaram-se as armadilhas que o homo sapiens não deveria ter criado para ter
ele mesmo como presa.
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