quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Crítica à Modernidade


“A ganância envenenou as nossas almas, levantou muralhas de ódio, fez-nos chegar à miséria e ao derramamento de sangue. Desenvolvemos velocidade, mas isolamo-nos uns dos outros. A maquinaria que poderia dar abundância deixou-nos na penúria. Os nossos conhecimentos tornaram-nos céticos e cruéis. Pensamos demais e sentimos de menos. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de compaixão. Sem estas virtudes, a vida será violenta.” (filme: O Grande Ditador, Charles Chaplin, 1940)

As palavras acima continuam cabendo perfeitamente nos dias de hoje, o que nos faz concluir que a raça humana pouco aprendeu com seus próprios erros.

O que foi que aconteceu? Onde foi que perdemos o foco?

Guerras nucleares e armamentos cada vez mais destrutivos; sustentabilidade do planeta em perigo; crises frequentes na economia global; aumento nos casos de câncer e stress; miséria e fome enquanto há grande desperdício de alimentos; situação alarmante da criminalidade e ataques terroristas; direitos humanos sendo covarde e constantemente desrespeitados dia a dia; apenas para citar alguns exemplos genéricos que nos fazem questionar o caminho que a humanidade tem traçado em direção à sua evolução (ou diria, devolução?). Valeria a pena tanto sofrimento em nome desse auto intitulado “desenvolvimento”?
Com o Renascimento e o Iluminismo, na Europa, à partir de fins do século XIV, a raça humana parecia ter acordado pra vida, mas em algum momento da história perdemos o “fio da meada”. A utilização da racionalidade por nós seres humanos pensantes e conscientes, apesar de bem fundamentada no século XVII com a Revolução Científica e teoricamente bem intencionada (com a quebra de paradigmas antes limitadores do conhecimento), vem sendo mal e exageradamente utilizada com o passar dos últimos séculos.
A humanidade se deslumbrou e se entorpeceu com todas as potencialidades adquiridas com a revolução científica a ponto de se deixar levar por uma corrente de pensamento moderno, mas de desdobramentos míopes, esquecendo pilares éticos e morais fundamentais.

A racionalidade usada como causa e fim, sem fundamentação humanamente causal, fez a humanidade perder o foco de suas ações e partir para um caminho sem volta de determinismos estéreis, em uma busca frenética por uma modernidade hiper mecanicista e funcionalista, porém essencialmente oca de valores, oca de visão holística; o que vem comprometendo a sustentabilidade do planeta de tal maneira a colocar em risco as nossas próximas gerações.
O pragmatismo da razão, as revoluções industrial e da informação, as rotinas burocráticas passaram a ser mais importantes do que o próprio ser humano e a própria natureza. Por um grande período, nos relacionamentos dos fatores organizacionais e seus efeitos invariavelmente impróprios na natureza, não foram consideradas suas associações orgânicas com a humanidade como um todo.
A racionalidade em si é positiva se for usada com meios e para fins éticos, porém foi deturpada e usada sobremaneira para fins puramente organizacionais e tecnológicos.
Criou-se um sistema econômico baseado exclusivamente no capital, nada na sustentabilidade, que incentiva o hiper consumismo, a ganância por poder e status, a degradação dos recursos naturais, o total desequilíbrio da distribuição de renda, a quebra/burlamento de leis para favorecimentos egoísticos e ilícitos, a competição desenfreada entre as pessoas ao invés da colaboração, a busca pelo enriquecimento individual e a conquista dos padrões do modo de vida moderno propagandeados pela mídia. O individualismo liberal reinou sobre o coletivo.
Passou-se a se ensinar ciência sem fundamentação e riqueza filosóficas. A ciência que deveria ser ensinada para moldar seres humanos dotados de corpo e espírito, capazes de evoluir à partir da filosofia, usando a razão como ferramenta para se obter as respostas sobre a natureza, e principalmente, em consonância com a natureza, passou gradativamente de libertadora a vilã da humanidade.
O evolucionismo dúbio de um “positivismo” lógico radical (que de positivo mesmo há apenas no nome) e o tecnocentrismo instrumental exacerbados do novo mundo moderno, criticados por Habermas entre outros teóricos intelectuais da antropologia / sociologia, tornaram-se as armadilhas que o homo sapiens não deveria ter criado para ter ele mesmo como presa.

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