quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Filosofia da Retrospectiva - um breve comentário

Imagem: pixabay.com

Para que possamos compreender a atualidade, precisamos saber o que nos trouxe até aqui. E, como é de praxe em fins de ano, a mídia nos presenteia com a Retrospectiva do ano que finda, fatos e acontecimentos que ficaram marcados na história de toda uma nação, que serão lembrados durante um bom tempo, quem sabe eternamente (porque não?).

A separação do tempo em dias, meses e anos, consequência dos movimentos astrais e seus efeitos naturais sobre o planeta, nos possibilitou encapsular o estado existencial da imanência vívida da realidade – ou o Dasein de Heidegger – com objetivos de compreendermos a história, a sociedade e a nós mesmos, e assim, evoluirmos.

A “3ª. Lei de Newton”, ou “Princípio da Ação e Reação”, postula que para cada ação há uma reação de igual valor e com sentido contrário. Como em todo o universo, na sociedade esta lei da física também se aplica. Para cada fato há um contra fato, uma compensação. Os movimentos sociais são como organismos vivos, que se auto imunizam de motivações e forças de reação quando sofrem situações de injustiça. Esse tipo de acontecimento gera energia na sociedade para contrabalancear o status quo de desequilíbrio, o que tende a produzir condições internas para um novo fato social, que tende à harmonização homeostática da coletividade.
Filosofia da História
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O “Materialismo Histórico” de Karl Marx consiste na ideia de que, ao criar a história, o ser humano baseia-se em sua própria realidade social. O homem é o ator de sua experiência e contribui fundamentalmente para a mutação do ambiente onde vive e é vivenciado. Nesse movimento de reação à materialidade, ao concreto da realidade, como que numa reflexão do plano material sobre o plano espiritual, o homem toma consciência de si mesmo e torna-se agente transformador ativo da história.

Wilhelm Dilthey pautou-se pelos fatores da natureza humana para explicar como os fenômenos culturais influenciam as mudanças históricas.

Em “A Razão na História – Uma Introdução Geral à Filosofia da História”, Hegel define História como “o desenvolvimento do Espírito no Tempo, assim como a Natureza é o desenvolvimento da Ideia no Espaço”.

Fazer uma Retrospectiva significa ler a história, a sociedade e a si mesmo, significa energizar a auto compreensão do Homem no Agora coletivo, assumir a consciência sobre os inter relacionamentos dos objetos condicionantes sociais – as Ideias no Espaço –, desanuviar esse estado de harmonização caótica de causalidades, compreender a lógica da escrita constante da vida – o presente e o seu progredir infinito – e analisar o “Espírito da Época” da humanidade em função da natureza/sociedade imanente numa fatia do plano multidimensional espaço temporal deste universo conhecido.

2016
imagem: pixabay.com
(Texto publicado no Jornal Imbituva Hoje Regional em 24/12/2015)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Nova música experimental

Após um certo hiato, eis um novo som no meu projeto experimental, "Grilo no Carrossel do Dr. Parnassus" - a trilha mais psicodélica e experimental que já publiquei até o momento. Trata-se de apenas um trecho de alguns minutos sintetizado de uma performance ao vivo totalmente livre de quase meia hora. Faz-me lembrar um pouco do início da tropicália e dos primeiros sons do Pink Floyd nos anos 60.
Dr. Parnassus é o mago do filme "O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus", o qual eu recomendo.


Antes de ouvir, relaxe, feche os olhos, respire fundo e esvazie a mente. Se possível, ouça num fone de ouvido.




Felipe Kertscher - flauta transversal e vocal
Jhon Baiano - bateria
Alessandro Moleta - sintetizador

Felipe Kertscher
Jhon Baiano




quinta-feira, 14 de maio de 2015

A Filosofia Existencial no Tropicalismo

Em qualquer sociedade, os fatos se inter-relacionam no tempo e a realidade é fruto de acontecimentos anteriores, então torna-se interessante o entendimento da história para a compreensão da cultura.
Tropicália - 1968Nos anos 60, o Brasil estava sob regime militar e sofria demasiada repressão intelectual e artística. Aliado a esse fator, há o surgimento forte da contra cultura nos movimentos de vanguarda artística ocidental, como sublimação de uma juventude pensante, cada vez mais tomando posse da liberdade de expressão que tem direito, socialmente ativa em resposta a uma geopolítica mundial angustiante de guerras, fome, violência, miséria, repressão, exploração e totalitarismos. No Brasil resultou no Tropicalismo ou Tropicália – uma versão “tropical” do “flower power” norte americano? Não, muito mais rico e profundo do que simplesmente isso. O tropicalismo se caracterizou pela arte como forte expressão do estado de espírito de sua época, a fusão de linguagens, a quebra de paradigmas, a sua influência na música, na moda, nas artes plásticas, na literatura, no cinema, na política, em fim, na cultura geral...
Após a bossa nova dos anos 50 e 60, o tropicalismo foi o movimento artístico de maior riqueza criativa e que mais floresceu a brasilidade para o mundo, com nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Glauber Rocha, Os Mutantes, Tom Zé, Novos Baianos, Jorge Benjor, Gal Costa, Maria Bethania, Torquato Neto, Jorge Mautner, Hélio Oiticica, Lygia Clark, José Celso Martinez Corrêa, etc. - sugiro o documentário “Tropicália” (2012) do diretor Marcelo Machado.
Para entendermos melhor a filosofia por trás da Tropicália, é necessário introduzir brevemente sobre o francês Jean Paul Sartre (1905 – 1980), um dos filósofos mais brilhantes e representativos do século XX, apegou-se à leitura desde criança, foi músico e ator talentoso na juventude, quando despertou para a filosofia pesquisando textos de Descartes, Spinoza, Kant, Nietzsche, entre outros. Pacifista e socialista, Sartre militou politicamente em causas de esquerda, lutando ativamente por revolução e justiça social. Polêmico, recusou-se a receber o prêmio Nobel de literatura em 1964 como forma de protesto contra as demagogias do institucionalismo das organizações oficiais.
A filosofia existencialista de Sartre “condena” o homem à responsabilidade por seu destino e tem neste fundamento existencial a base para sua liberdade, filosofia esta que inspirou os tropicalistas a lutar por liberdade de expressão, ao engajamento e à crítica ao “estabelecido”, às tradições e à própria cultura.

“Nós brasileiros, não devíamos imitar, más sim devorar a informação nova, viesse de onde viesse, ou nas palavras de Haroldo de Campos, ‘assimilar sob espécie brasileira a experiência estrangeira e reinventá-la em nossos termos, com qualidades locais iniludíveis que dariam ao produto resultante um caráter autônomo e lhe confeririam, em princípio, a possibilidade de passar a funcionar, por sua vez, num confronto internacional, como produto de exportação.’” (VELOSO, Verdade Tropical, 1997, p.247)
Sarte e sua esposa Simone de Beavoir visitaram o Brasil em 1960 onde passaram dois meses participando de movimentos sociais, assimilando cultura e deixando uma impressão permamente nas terras tupiniquins, tendo proposto “uma literatura popular engajada, que tivesse como objetivo despertar para o reconhecimento pelo povo de sua condição social impulsionando à ação revolucionária” (Adriano Ibiapina Ferreira).
Finalizo com uma frase de Sarte que sintetiza sua filosofia existencial:
“O homem não é senão o seu projeto, e só existe na medida em que se realiza.”


sábado, 10 de janeiro de 2015

A crise política brasileira está no povo

(Imagem: www.pixabay.com)


Fruto do fraco sistema educacional, da cultura do “jeitinho” e da malandragem instituída, a maior parte da população brasileira - a verdadeira massa - dá-se por satisfeita em apenas votar e pagar impostos, como se desta forma já tivesse cumprido seu papel cidadão. Grande parte vende seu voto por esmolas mascaradas de assistencialismo, vendendo assim também sua ideologia – veja, não estou criticando aqui os méritos do assistencialismo nas políticas sociais, que é mais do que evidente ser prudente e necessário, conforme os próprios fundamentos filosóficos e sociológicos dos direitos humanos e até mesmo para contrabalancear as mazelas do capitalismo, o que está errado é a forma deturpada que partidos se utilizam do assistencialismo com fins eleitoreiros.
De maneira egoística, a maioria dos cidadãos brasileiros não faz questão de exercer a sua cidadania no dia a dia, nas coisas mais corriqueiras, na vida social, deixando de respeitar os direitos do próximo, de cumprir com seus deveres e de exigir os seus direitos, sendo complacente, conivente e de certa forma cúmplice com o status quo de injustiças, imposto por uma minoria no poder.
O anti cidadão basta-se em traçar acomodadamente uma ou outra crítica de baixo calão, pois ele precisa compensar o seu sentimento de incompetência e incapacidade de mudança frente à realidade. Como se não houvesse outra saída, releva-se e vive-se uma vida inteira na ignorância, numa comodidade absurda, num coitadismo conveniente para ambas as partes – opressor e oprimido.
Como se política fosse apenas um joguete, no período eleitoral o anti cidadão levanta a bandeira de um partido apaixonadamente como se estivesse vestindo a camisa do seu time de futebol. Nem percebe que é simples marionete nas mãos de poderosos maquiavélicos! Prefere passar o resto do tempo deixando-se emburrecer pelos canais abertos de televisão – gratuitos, é claro.
Vejo muitos jovens desanimados com a política, desacreditados por um fatalismo desmotivante, causado por enxurradas de notícias negativas na política, como se “política” se resumisse a corrupção e jogos de poder. Jovens estes que serão os responsáveis pelas mudanças que tanto idealizam.
Mas aquele que acorda e enxerga o caminho não se apequena, toma iniciativas e muda a realidade ao seu redor, ao seu alcance, pois POLÍTICA vai muito além de partidos, DEMOCRACIA é muito mais do que eleições, CIDADANIA é muito mais do que pagar impostos e ÉTICA é muito mais do que uma bela palavra.
Ao invés de apenas criticar para se abster de responsabilidade e culpa, aquele que acorda e enxerga o caminho se embasa de informações e dados realmente relevantes e confiáveis, tece críticas construtivas pensando primeiramente no que é certo e que atenda ao maior bem comum, independentemente de partido político, símbolo, legenda, bandeira ou projeto de poder.
Aquele que acorda e enxerga o caminho age em sua comunidade e faz a sua parte. Ele faz a diferença com atitudes que valem mais do que palavras, dividendos ou bens mundanos materiais. Pensa globalmente, mas age localmente.
Aquele que acorda e enxerga o caminho, pensa não só no amanhã, mas nas próximas gerações, toma as rédeas de si próprio, não coloca sua ideologia à venda e não se deixa levar pela correnteza. Ele não dança conforme a música, ele escolhe a música, ou cria a sua própria.