quinta-feira, 14 de maio de 2015

A Filosofia Existencial no Tropicalismo

Em qualquer sociedade, os fatos se inter-relacionam no tempo e a realidade é fruto de acontecimentos anteriores, então torna-se interessante o entendimento da história para a compreensão da cultura.
Tropicália - 1968Nos anos 60, o Brasil estava sob regime militar e sofria demasiada repressão intelectual e artística. Aliado a esse fator, há o surgimento forte da contra cultura nos movimentos de vanguarda artística ocidental, como sublimação de uma juventude pensante, cada vez mais tomando posse da liberdade de expressão que tem direito, socialmente ativa em resposta a uma geopolítica mundial angustiante de guerras, fome, violência, miséria, repressão, exploração e totalitarismos. No Brasil resultou no Tropicalismo ou Tropicália – uma versão “tropical” do “flower power” norte americano? Não, muito mais rico e profundo do que simplesmente isso. O tropicalismo se caracterizou pela arte como forte expressão do estado de espírito de sua época, a fusão de linguagens, a quebra de paradigmas, a sua influência na música, na moda, nas artes plásticas, na literatura, no cinema, na política, em fim, na cultura geral...
Após a bossa nova dos anos 50 e 60, o tropicalismo foi o movimento artístico de maior riqueza criativa e que mais floresceu a brasilidade para o mundo, com nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Glauber Rocha, Os Mutantes, Tom Zé, Novos Baianos, Jorge Benjor, Gal Costa, Maria Bethania, Torquato Neto, Jorge Mautner, Hélio Oiticica, Lygia Clark, José Celso Martinez Corrêa, etc. - sugiro o documentário “Tropicália” (2012) do diretor Marcelo Machado.
Para entendermos melhor a filosofia por trás da Tropicália, é necessário introduzir brevemente sobre o francês Jean Paul Sartre (1905 – 1980), um dos filósofos mais brilhantes e representativos do século XX, apegou-se à leitura desde criança, foi músico e ator talentoso na juventude, quando despertou para a filosofia pesquisando textos de Descartes, Spinoza, Kant, Nietzsche, entre outros. Pacifista e socialista, Sartre militou politicamente em causas de esquerda, lutando ativamente por revolução e justiça social. Polêmico, recusou-se a receber o prêmio Nobel de literatura em 1964 como forma de protesto contra as demagogias do institucionalismo das organizações oficiais.
A filosofia existencialista de Sartre “condena” o homem à responsabilidade por seu destino e tem neste fundamento existencial a base para sua liberdade, filosofia esta que inspirou os tropicalistas a lutar por liberdade de expressão, ao engajamento e à crítica ao “estabelecido”, às tradições e à própria cultura.

“Nós brasileiros, não devíamos imitar, más sim devorar a informação nova, viesse de onde viesse, ou nas palavras de Haroldo de Campos, ‘assimilar sob espécie brasileira a experiência estrangeira e reinventá-la em nossos termos, com qualidades locais iniludíveis que dariam ao produto resultante um caráter autônomo e lhe confeririam, em princípio, a possibilidade de passar a funcionar, por sua vez, num confronto internacional, como produto de exportação.’” (VELOSO, Verdade Tropical, 1997, p.247)
Sarte e sua esposa Simone de Beavoir visitaram o Brasil em 1960 onde passaram dois meses participando de movimentos sociais, assimilando cultura e deixando uma impressão permamente nas terras tupiniquins, tendo proposto “uma literatura popular engajada, que tivesse como objetivo despertar para o reconhecimento pelo povo de sua condição social impulsionando à ação revolucionária” (Adriano Ibiapina Ferreira).
Finalizo com uma frase de Sarte que sintetiza sua filosofia existencial:
“O homem não é senão o seu projeto, e só existe na medida em que se realiza.”